A partida de Eduardo.
Eduardo disse que precisava de um terreno em Marte, se possível nas
colinas. Bem longe de tudo, onde o que se escuta é o silêncio da solidão. Disse
que precisava de tempo pra pensar mas não que sabia em quê, que nunca sabia de
nada, que estava sempre dando tiros no escuro tentando acertar alguma forma de
esperança iluminada... Eduardo era um eterno indeciso insatisfeito!
Decidiu tirar umas férias da vida, parar tudo (ou quase tudo). Disse
que não decidiu isso sozinho ou porque quis. Disse que as coisas simplesmente
foram acontecendo. Que ele foi deixando as coisas acontecerem sem sua presença.
Sem querer foi parando de fazer questão de muitas coisas as quais estavam na
categoria “Prioridade” em sua vida.
Depois de se acomodar nas colinas de Marte, disse mais. Disse que
talvez tenha ido pra lá pra observar melhor os fatos. Observar o que estava
errado, o que deveria ser mudado... Que talvez tenha esteja se tornando uma
pedra, completamente inerte a qualquer situação, por medo, por desgosto, por
desinteresse em viver o tempo que ainda lhe restava. Não sabia dizer ao certo,
só sabia que ao passo que ali queria ficar, queria logo sair.
Não sabia por quanto tempo ia ficar, só esperava que fosse o suficiente
pra voltar a sanidade e a estabilidade. As emoções, as novas experiências do
mundo o fizeram recuar e de certo modo, desistir. Tudo foi virando uma bola de
neve e, tardiamente, ele percebeu a necessidade de fechar suas portas.
Por último, depois de sua cansativa sessão de investigação pessoal disse:
“Talvez eu só queira (e precise) arrumar minha cabeça sentindo o sol da
manhã, ouvindo o canto dos pássaros, sentado à sombra das árvores e fazendo
umas boas músicas. Talvez só precise estar em paz comigo mesmo.”