“E de repente, repentinamente, bate a vontade de chorar a
tristeza dos outros. Chorar a lágrima que ele não chorou, sentir a dor e o
sofrimento que ela não sofreu... É uma solidariedade estranha e um masoquismo perverso.
Desenfreados. Insistem em me perturbar.
Uma mágoa, um algo não resolvido puxa o outro... E aí vai...
vai sorrateiramente tudo se desmoronando, e eu fico de novo em pedaços.”
Masoquismo, ócio, terapia, positivismo:
humanos.
"É algo incontrolável, mas que já
virou hábito. Seja pelo outro, ou seja por si mesmo. Sofrer. Querer sofrer
mesmo que não haja causa nem por que. Talvez seja tédio e o dito popular se
aplique: “Cabeça vazia, oficina do diabo.”. Se for por aí, então deveria evitar
o tédio? A impaciência? A ansiedade?
Grande parte das vezes quando
estamos entediados e sem algo pra pensar começamos a refletir. E aí cada vez
mais pensamentos, reflexões das reflexões, questionamentos das próprias
verdades... É uma coisa doida!
Todos nós temos um masoquista dentro de nós. Pensar demais
enlouquece, sabemos disso! E ainda sim, quando estamos sem sono, entediados, ociosos,
insistimos em refletir, analisar demais... Reviramos o baú das memórias da vida
pra reviver momentos, mas terminamos quase sempre onde não queremos, achando
algo errado. Achando um erro, uma insatisfação. Sempre procurando uma nova
incoerência pra satisfazer o ócio de estar em paz consigo mesmo. Sempre
querendo ver um novo erro onde tudo está certo... E assim ficamos loucos.
Vivemos loucos. Fazemos da nossa cabeça o próprio inferno de cada dia, de cada
noite, de cada momento de inatividade.
O mais curioso disso tudo é que sofremos por coisas
desnecessárias e queremos nos mostrar cada vez mais gigantes, cada vez mais
inabaláveis pro mundo. Poucos são aqueles que tem coragem de admitir que estão
ali por si mesmos, sem posturas defensivas. Que tem os problemas que todo mundo
tem, que precisam de ajuda, que são como todo mundo é, mas não admite ser. É tudo de cabeça-para-baixo. De trás pra frente ou fora de ordem.
Bem, se a gente quer ficar em paz, a gente tem de se permitir
ficar em paz. Se libertar e ser quem a gente sempre foi, mas esqueceu que era.
Quem a gente deixou pelo caminho, pelas reflexões. Perdido no meio das
perturbações. E se a gente quer se encontrar, viver sem máscaras, vale a
sinceridade como primeiro passo. É um dom que temos, mas que quase nunca
queremos usar. Sinceridade tira o peso, lava, livra, liberta...
Assim, de repente, sem a gente nem se dar conta a paz nos retorna. Cabe a nós conservá-la. Calma, força e paz! Que devagar
tudo vai voltando pra onde deveria ter ficado. Devagar a gente se encontra
novamente com quem a gente se desencontrou antes de se questionar
insaciavelmente."