domingo, 16 de março de 2014

O poema de dois minutos. [24/02/2014]


Eu vim da cozinha pro quarto,
Só pra escrever.
Coloquei uma música linda pra tocar.
Você me trouxe.
Me puxou com uma força desmedida e despretensiosa.

Eu nem quis lembrar de tudo.
Tudo que me atormenta, me deixa em pedaços...
De repente, eu
Esqueci!

Deu uma ânsia estranha e incontrolável
De viver tudo de uma vez!

As memórias e todos os inúmeros desejos
Retornaram duma vez só num filme
Intenso de alguns instantes.

(Os raios de sol iluminando seus cabelos,
Sua cabeça repousada no meu colo,
Sua risada ecoando pelas árvores...)
É de extasiar qualquer um!
E comigo não foi diferente...

Ali, sentado, fiquei de
Olhos fechados.
Imaginando felicidade, amor e nem sei mais...

Eu não quis, eu não escolhi,
Apenas veio inteiramente
Sem querer.
Mas confesso: quero de novo
Sentar no mesmo banco e
Imaginar tudo outra vez.

Quero muito mais que
Dois segundos,
Dois minutos,
Dois meses ou
Dois anos.

Quero uma eternidade tranquila
À dois!

sábado, 8 de março de 2014

Chuva.


Tanta gota
Tanta chuva
Tanta falta que você faz que
O céu chega a
Chorar por mim.

Muito.

O vazio que antes era,
Vazio permanece.
Chuva (só) serve pra diluir
Aquilo que antes almejava existir.

Ou não – quem vai saber?

Anoitece e longe você segue...
Vá embora!
Pare de me encharcar!
Volte nos seus passos largos!

Não é de açúcar, mas é doce como tal
Cuidado pra não se molhar
Lendo este recital.

(Nunca lerá,
Não saberá,
Jamais sentirá).

quinta-feira, 6 de março de 2014

Não são só trinta centavos.


            Hoje eu vi um moço. Não era um moço qualquer, mas não deixava de ser um moço. Um moço que vendia picolés num ponto de ônibus. Detesto picolés, sorvetes e coisas doces, mas o picolé do moço era muito bom.
            Minha mãe me ofereceu um real pra comprar um picolé. Comprei pra ajudar o moço. Também lembrei que nas praias do Rio e outras, um picolé menos saboroso do que o do moço é vendido a cinco reais. Comprei porque... Eu precisava ajudar o moço, que faz de trinta em trinta centavos sua renda que deve ser acerca de trezentos reais por mês. "Mês" fica apenas como uma referência temporal, pois o trabalho do moço certamente já dura há anos.
            O moço merece, o moço precisa.
            Enquanto escrevo este relato, o mesmo me olha com um olhar triste, sofrido, digno de longas caminhadas debaixo de sol forte tentando ter seu lucro do dia. Um moço simpático, de aparência humilde e cara de vovô.
            É ruim, muito ruim saber que enquanto entro no ônibus de volta com uma passagem a três reais e cinco centavos, o moço está no ponto. No ponto tentando ganhar de trinta em trinta centavos o dinheiro suficiente pra pelo menos comprar mais que uns picolés no fim do mês. Moços tão humildes quanto este, talvez mereçam uma grande sorveteria com muitos trinta centavos todo dia. Quero que este moço, que tem “um netinho que chama Vinicius e é deste tamanhozinho assim”, engorde toda a população da região com muitos de seus picolés de um real.


De longe.


E faz é assistir os efeitos do amor,
As consequências da loucura.
Assiste de longe
O que tudo faz comigo.

Se é de longe que assiste,
É longe que quer ficar.
Não quer fazer parte,
Se entregar.

Tarde a chegar,
Hesite em aceitar
Que se aprende a ser feliz sozinho.
Aceitar a ausência,
A incorrespondência e
A achar outra felicidade par.

Quando vir, já passou.
Já foi e se perdeu.
Já não é mais
Tudo aquilo que
Um dia foi
Seu.

28.


Cerca de vinte e oito semanas
Se passaram:
Ainda me lembro
Como se tivesse sido
Ontem.

Mostramos amor de uma forma
Que nunca quis me expor.
(Ignorei)
Uma vez na vida não faz mal...
A felicidade era tanta que não cabia:
Tive de partilhar.

Intenso. Novo. Bom. Tudo.

Algo realmente inesperado.
No susto, na correria, na espera
E de repente,
Havia chegado!

Às vezes, muitas vezes,
Vivo de passado? Sim!
Mas o que fazer quando
Boas lembranças é o que se tem
Pra lembrar?

Vinte e oito semanas
Que tive os melhores três dias da minha vida.
Vinte e oito semanas
De pura e tamanha saudade.
Vinte e oito semanas:
Tempo mais que suficiente pra esquecer algo a ponto de achar que nunca o fez.
Vinte e oito semanas
Que lembro, relembro, vivo as memórias de tudo que passou.
Vinte e oito semanas
Que queria ter vivido como vivi os três dias.

Vinte e oito semanas
Que não sou feliz como um dia já fui e
Nunca imaginei que seria.

A vida, ela é ingrata!
Acaba com coisas nossas
Que não permitem que a gente
Se acabe.

Conexão.


Vou ouvir o canto dos pássaros
Como se nunca tivesse ouvido,
Como se fosse a primeira vez.

As gotas de chuva vão cair,
Molhar, refrescar e levar tudo
Que há de ruim
Embora.

O céu vai sorrir pra mim,
Seja com nuvens ou raios de sol.

O verde-alegre das árvores
Vai sarar as mágoas marcadas
Pelo cinza-melancolia das construções.

[Respirar fundo]

Vai tudo embora.
Porque eu quero, quero esquecer.
Quero que vá
Tudo embora.
E vai.
E foi.