Não são só trinta centavos.
Hoje eu vi um moço. Não era um moço
qualquer, mas não deixava de ser um moço. Um moço que vendia picolés num ponto
de ônibus. Detesto picolés, sorvetes e coisas doces, mas o picolé do moço era
muito bom.
Minha mãe me ofereceu um real pra
comprar um picolé. Comprei pra ajudar o moço. Também lembrei que nas praias do
Rio e outras, um picolé menos saboroso do que o do moço é vendido a cinco
reais. Comprei porque... Eu precisava ajudar o moço, que faz de trinta em
trinta centavos sua renda que deve ser acerca de trezentos reais por mês. "Mês" fica apenas como uma referência temporal, pois o trabalho do moço certamente já
dura há anos.
O moço merece, o moço precisa.
Enquanto escrevo este relato, o
mesmo me olha com um olhar triste, sofrido, digno de longas caminhadas debaixo
de sol forte tentando ter seu lucro do dia. Um moço simpático, de aparência
humilde e cara de vovô.
É ruim, muito ruim saber que
enquanto entro no ônibus de volta com uma passagem a três reais e cinco
centavos, o moço está no ponto. No ponto tentando ganhar de trinta em trinta
centavos o dinheiro suficiente pra pelo menos comprar mais que uns picolés no
fim do mês. Moços tão humildes quanto este, talvez mereçam uma grande
sorveteria com muitos trinta centavos todo dia. Quero que este moço, que tem
“um netinho que chama Vinicius e é deste tamanhozinho assim”, engorde toda a
população da região com muitos de seus picolés de um real.
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