quinta-feira, 6 de março de 2014

Não são só trinta centavos.


            Hoje eu vi um moço. Não era um moço qualquer, mas não deixava de ser um moço. Um moço que vendia picolés num ponto de ônibus. Detesto picolés, sorvetes e coisas doces, mas o picolé do moço era muito bom.
            Minha mãe me ofereceu um real pra comprar um picolé. Comprei pra ajudar o moço. Também lembrei que nas praias do Rio e outras, um picolé menos saboroso do que o do moço é vendido a cinco reais. Comprei porque... Eu precisava ajudar o moço, que faz de trinta em trinta centavos sua renda que deve ser acerca de trezentos reais por mês. "Mês" fica apenas como uma referência temporal, pois o trabalho do moço certamente já dura há anos.
            O moço merece, o moço precisa.
            Enquanto escrevo este relato, o mesmo me olha com um olhar triste, sofrido, digno de longas caminhadas debaixo de sol forte tentando ter seu lucro do dia. Um moço simpático, de aparência humilde e cara de vovô.
            É ruim, muito ruim saber que enquanto entro no ônibus de volta com uma passagem a três reais e cinco centavos, o moço está no ponto. No ponto tentando ganhar de trinta em trinta centavos o dinheiro suficiente pra pelo menos comprar mais que uns picolés no fim do mês. Moços tão humildes quanto este, talvez mereçam uma grande sorveteria com muitos trinta centavos todo dia. Quero que este moço, que tem “um netinho que chama Vinicius e é deste tamanhozinho assim”, engorde toda a população da região com muitos de seus picolés de um real.


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